segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Por dentro da GMB - III

Modelos de negócio

A GMB é uma das poucas revistas nacionais que cobram para avaliar e publicar artigos. Você poderia falar um pouco sobre o início da cobrança? Por que vocês decidiram passar a cobrar?

Klaus: Primeiramente, vale o ditado "there is no such thing as a free lunch". Cada fascículo da GMB produzido custa à SBG em torno de R$ 45 mil e este dinheiro tem que vir de algum lugar. É a mesma preocupação de todas revistas científicas, sejam nacionais ou internacionais. Existem três fontes de recursos: assinatura, cobrança do autor e verba pública de agências financiadoras. Aí, as diferentes revistas adotam diferentes "business models".

O mais tradicional é o da assinatura, modelo mais comum no caso de revistas publicadas pelas grandes editoras: Elsevier, Springer, Cell Press, Nature Publishing Group etc. Nestes casos, é o leitor (ou a sua instituição) quem paga para ter acesso pleno a um artigo.

No caso de revistas open access (as da iniciativa PLoS, do BMC etc..) são os autores que pagam taxas de publicação que, no caso das revistas BMC, variam entre US$ 1,500 e US$ 2,500.

A terceira fonte são as agências financiadoras que ajudam manter revistas científicas de duas maneiras: a) incluindo taxas de publicação nos grants dos pesquisadores e b) por meio de editais específicos, abrindo espaço para os editores de revistas solicitarem verbas. No caso do Brasil,  estas agências são a CAPES e o CNPq, no âmbito federal, e a FAPESP, para  revistas e autores do Estado de São Paulo.

A GMB conta com verbas das agências financiadoras e dos membros da SBG, que assinam a revista no pagamento da anuidade. Além disso, a GMB mantém assinaturas no Brasil e no exterior. Este "mixed business model” funcionou bem até dois, três anos.

Porém, dois pontos importantes mudaram nestes últimos anos. O primeiro foi um investimento pesado por parte da SBG na melhoria da GMB, tanto para garantir a produção dos XMLs para o PMC, quanto o licenciamento da plataforma Scholar One (tentamos durante anos, mas não foi possível adaptar a plataforma aberta oferecida pelo SciELO ao processo editorial da GMB).

Foi neste período também que notamos pela primeira vez uma inversão na origem de manuscritos submetidos. Enquanto até 2007, a maioria dos manuscritos (75% a 80%) era  submetida por autores brasileiros, em 2008, houve uma inversão, com mais que 50% dos manuscritos vindos do exterior, principalmente da China e Índia. Tal abertura foi um bom sinal, indicando a ampla visibilidade da GMB, porém, ela também implicou em um custo, pois aumentou o número de submissões: de 350, em 2006/2007, para 450/470 em 2008/2009 e quase 500 em 2010. Assim, manter a política de não cobrança dos autores implicaria em um grande risco para a situação financeira da GMB.

Note que, neste período, um maior número de pesquisadores chineses passou a publicar no exterior, em inglês, e que houve o ingresso pesado das grandes editoras (Springer, Elsevier), comprando os direitos das revistas publicadas na China e cobrando para publicação (assinaturas ou publication charges).

Diante destas tendências mundiais, a GMB, com apoio da SBG, implementou uma política de cobrança de uma taxa de publicação aos autores. A taxa é de US$ 500, a ser paga quando um artigo é aceito para publicação. A GMB não cobra no momento da submissão, apenas para publicação. A taxa é cobrada de autores que não são membros da SBG, sendo que membros da sociedade continuarão a publicar sem cobrança. 

A GMB também oferece a isenção (“waiver") de taxas para autores que apresentem argumentos de bom senso. E, obviamente, a revista tem uma política especial em casos de submissões de revisões de amplo interesse para a área.

Acreditamos que, de tal maneira, conseguimos equilibrar as questões financeiras com os interesses científicos.
         

Como foi a aceitação da cobrança por parte dos pesquisadores? E a repercussão entre as outras publicações nacionais?

Klaus: Ainda estamos na fase de implementação, sendo que, por enquanto, temos apenas poucos casos a serem cobrados (manuscritos submetidos após 1º. de maio de 2011 e já aceitos). Porém, notamos uma leve queda de submissões vindas do exterior, apesar das taxas cobradas pela GMB estarem entre as menores para revistas open access.

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