quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Decifrando - OJS/SEER

OJS/SEER - Open Journal System/Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas

Desenvolvido pelo Public Knowledge Project, da Universidade de British Columbia, e traduzido no Brasil pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), o OJS/SEER é um sistema de gerenciamento de todas as etapas de editoração de uma publicação científica, desde a submissão dos artigos pelos autores, até a publicação do manuscrito na internet, passando pelas revisões dos pareceristas. O OJS/SEER é destinado a publicações com sistema de avalição de manuscritos duplo-cego.

Software livre, de código aberto, o sistema nasceu com a filosofia de permitir o acesso aberto à informação científica.

Segundo dados do Public Knowledge Project, um pouco desatualizados, é verdade, em janeiro de 2010 o sistema era adotado por mais de 5 mil publicações no mundo todo.

Reciclagem

A Associação Brasileira dos Editores Científicos (ABEC) organiza uma série de eventos no mês de novembro, todos realizados na cidade de Gramado (RS).

Confira a programação:

XIII Encontro Nacional de Editores Científicos – 8 a 11 de novembro
Durante o encontro, serão ministrados quatro cursos sobre assuntos como o DOI, o sistema OJS/SEER, o papel do editor científico. Além dos cursos, o encontro terá palestras e seminários com editores do Brasil e do exterior, que debaterão, por exemplo, a profissionalização do editor científico.

II Encontro Nacional de Bibliotecários – 11 de novembro
Temas como a indexação de artigos de periódicos brasileiros nos sistemas OPACs de bibliotecas serão debatidos no evento.

IV Seminário Satélite para Editores Plenos – 11 de novembro      
O evento terá dois importantes painéis: “Ética e integridade na publicação científica”, com destaque para a apresentação sobre a estrutura e o processo editorial da revista The Lancet, e “Qualidade e transição nos periódicos científicos”, destacando a palestra sobre o papel do editor-chefe.

Inscrições e informações sobre todos os eventos estão no site da Abec

domingo, 7 de agosto de 2011

Chamada de artigos da Ciência & Saúde Coletiva para edição temática sobre aborto

A Revista Ciência & Saúde Coletiva está recebendo artigos para uma edição temática sobre aborto no Brasil.

O número especial será coordenado pelas pesquisadoras Débora Diniz, professora da Universidade de Brasília e do Programa de Pós-Graduação em Bioética e Ética em Pesquisa (Fiocruz/UFRJ/UFF/UERJ) e Greice Menezes, professora da Universidade Federal da Bahia e pesquisadora do MUSA.

Os interessados podem submeter seus trabalhos até novembro, para o e-mail: d.diniz@gmx.com.

Mais informações em http://www.cienciaesaudecoletiva.com.br

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Por dentro da GMB

Modelos de negócio para publicações científicas, cobrança para avaliação de manuscritos, versão impressa x versão eletrônica, controle da qualidade dos artigos científicos.

Estes são alguns dos assuntos que você vai ler nos próximos posts, em uma entrevista exclusiva com o professor Klaus Hartfelder, PhD pela Universidade de Tuebingen (Alemanha) e editor assistente da GMB, publicação oficial da Sociedade Brasileira de Genética.

Começando a caminhada

Como surgiu a ideia de criação da GMB?

Klaus:  A Genetics and Molecular Biology é o órgão oficial da Sociedade Brasileira de Genética (SBG). O primeiro volume foi publicado em 1978, com o nome de Revista Brasileira de Genética / Brazilian Journal of Genetics. Em 1998, o título mudou para Genetics and Molecular Biology. A revista foi criada como órgão oficial da SBG para divulgar as pesquisas dos geneticistas brasileiros e, desde o ínicio, este tem sido um dos objetivos principais.   


Quais as dificuldades para um periódico se estabelecer em uma uma área repleta de publicações, como é a área das ciências biológicas?

Klaus: A GMB não teve problemas para se estabelecer, pois nasceu a partir de uma de uma das grandes sociedades científicas brasileiras. Assim, tem o suporte pleno dentro da sociedade e a maioria dos membros da SBG publicam na revista com certa frequência. Além disso, ela é atrativa por ter todos os seus artigos em inglês e ser de acesso aberto, garantindo ampla visibilidade dentro da comunidade científica.


A GMB tem versão impressa? Se sim, ela é paga?

Klaus: Sim, a GMB tem versões impressa e eletrônica e não há pagamento extra para a impressa. É um grande mito que a versão impressa tem um custo altissimo, enquanto a versão elertônica é quase gratuita. Revistas impressas ou eletrônicas passam pelo mesmo procedimento editorial, necessitam de edição, diagramação, marcação eletrônica etc. A diferença está na impressão. 

Por dentro da GMB - II

Controle de qualidade

A GMB é uma revista brasileira indexada em importantes bancos de periódicos do mundo, inclusive no ISI. A que você atribui estas conquistas da publicação? Quais são os pontos fortes da GMB, em termos científicos e de produção editorial?

Klaus: Os pontos mais importantes para tais indexadores (ISI-WOS, PubMed, SciELO) são a regularidade de publicação, a garantia do peer-reviewing e a qualidade do corpo editorial. A GMB preenche todos estes requisitos, nunca tendo faltado na regularidade. Outros pontos fortes da GMB são a qualidade dos artigos publicados, garantida por um rigoroso processo de análise editorial, feito por editores associados com amplo conhecimento das diferentes áreas do conhecimento relacionadas com a genética e pelos assessores ad hoc que garantem um peer-reviewing de qualidade. Note  que a GMB tem um índice de recusa de manuscritos em torno de 60%.

Ademais, após ser aceito pelo editor, cada manuscrito é avaliado criteriosamente por um  conjunto de corretores em relação à adequação do inglês (os corretores muitas vezes fazem e sugerem amplas revisões do texto) e pr seus aspectos técnicos (tabelas, figuras e consistência de referências). Tal controle de qualidade é fundamental para o reconhecimento da seriedade de um periódico científico.

Para os autores, o atrativo é o fato da GMB ser uma revista de acesso aberto, com a possibilidade de publicação de figuras coloridas, geralmente sem cobrança extra.
  

E quais os pontos que podem ser melhorados?

Klaus: O principal ponto a ser melhorado é o tempo entre recebimento de um manuscrito e a sua publicação. Porém, com os esforços dos últimos anos, conseguimos melhorar bastante e reduzir este prazo para quatro a seis meses. Fundamental para tal redução foi uma cobrança sistematizada dos editores associados e assessores ad hoc para que se mantivessem dentro dos prazos. E deve-se considerar que editores, editores associados e  assessores ad hoc fazem seu trabalho como parte das suas atividades de extensão, dentro das suas carreiras acadêmicas nas universidades e instituições de pesquisa, sem nenhuma remuneração.

Em termos técnicos houve um grande avanço com a implementação de uma plataforma de submissão online, o Scholar One, licenciada da Thomson Reuters, que facilita muito o trânsito de manuscritos e informações entre os envolvidos no processo de análise editorial. 

Outra maneira de encurtar o tempo entre submissão e publicação foi o acordo feito com o SciELO, que possibilita a disponibilização em fluxo contínuo de artigos no formato Ahead-of-Print, ou seja, artigos prontos que, normalmente, aguardariam para serem incluidos em um fascículo, mas que, desta forma, ficam disponíveis na sua versão eletrônica, igual à definitiva, meses antes da sua publicação. 

Por dentro da GMB - III

Modelos de negócio

A GMB é uma das poucas revistas nacionais que cobram para avaliar e publicar artigos. Você poderia falar um pouco sobre o início da cobrança? Por que vocês decidiram passar a cobrar?

Klaus: Primeiramente, vale o ditado "there is no such thing as a free lunch". Cada fascículo da GMB produzido custa à SBG em torno de R$ 45 mil e este dinheiro tem que vir de algum lugar. É a mesma preocupação de todas revistas científicas, sejam nacionais ou internacionais. Existem três fontes de recursos: assinatura, cobrança do autor e verba pública de agências financiadoras. Aí, as diferentes revistas adotam diferentes "business models".

O mais tradicional é o da assinatura, modelo mais comum no caso de revistas publicadas pelas grandes editoras: Elsevier, Springer, Cell Press, Nature Publishing Group etc. Nestes casos, é o leitor (ou a sua instituição) quem paga para ter acesso pleno a um artigo.

No caso de revistas open access (as da iniciativa PLoS, do BMC etc..) são os autores que pagam taxas de publicação que, no caso das revistas BMC, variam entre US$ 1,500 e US$ 2,500.

A terceira fonte são as agências financiadoras que ajudam manter revistas científicas de duas maneiras: a) incluindo taxas de publicação nos grants dos pesquisadores e b) por meio de editais específicos, abrindo espaço para os editores de revistas solicitarem verbas. No caso do Brasil,  estas agências são a CAPES e o CNPq, no âmbito federal, e a FAPESP, para  revistas e autores do Estado de São Paulo.

A GMB conta com verbas das agências financiadoras e dos membros da SBG, que assinam a revista no pagamento da anuidade. Além disso, a GMB mantém assinaturas no Brasil e no exterior. Este "mixed business model” funcionou bem até dois, três anos.

Porém, dois pontos importantes mudaram nestes últimos anos. O primeiro foi um investimento pesado por parte da SBG na melhoria da GMB, tanto para garantir a produção dos XMLs para o PMC, quanto o licenciamento da plataforma Scholar One (tentamos durante anos, mas não foi possível adaptar a plataforma aberta oferecida pelo SciELO ao processo editorial da GMB).

Foi neste período também que notamos pela primeira vez uma inversão na origem de manuscritos submetidos. Enquanto até 2007, a maioria dos manuscritos (75% a 80%) era  submetida por autores brasileiros, em 2008, houve uma inversão, com mais que 50% dos manuscritos vindos do exterior, principalmente da China e Índia. Tal abertura foi um bom sinal, indicando a ampla visibilidade da GMB, porém, ela também implicou em um custo, pois aumentou o número de submissões: de 350, em 2006/2007, para 450/470 em 2008/2009 e quase 500 em 2010. Assim, manter a política de não cobrança dos autores implicaria em um grande risco para a situação financeira da GMB.

Note que, neste período, um maior número de pesquisadores chineses passou a publicar no exterior, em inglês, e que houve o ingresso pesado das grandes editoras (Springer, Elsevier), comprando os direitos das revistas publicadas na China e cobrando para publicação (assinaturas ou publication charges).

Diante destas tendências mundiais, a GMB, com apoio da SBG, implementou uma política de cobrança de uma taxa de publicação aos autores. A taxa é de US$ 500, a ser paga quando um artigo é aceito para publicação. A GMB não cobra no momento da submissão, apenas para publicação. A taxa é cobrada de autores que não são membros da SBG, sendo que membros da sociedade continuarão a publicar sem cobrança. 

A GMB também oferece a isenção (“waiver") de taxas para autores que apresentem argumentos de bom senso. E, obviamente, a revista tem uma política especial em casos de submissões de revisões de amplo interesse para a área.

Acreditamos que, de tal maneira, conseguimos equilibrar as questões financeiras com os interesses científicos.
         

Como foi a aceitação da cobrança por parte dos pesquisadores? E a repercussão entre as outras publicações nacionais?

Klaus: Ainda estamos na fase de implementação, sendo que, por enquanto, temos apenas poucos casos a serem cobrados (manuscritos submetidos após 1º. de maio de 2011 e já aceitos). Porém, notamos uma leve queda de submissões vindas do exterior, apesar das taxas cobradas pela GMB estarem entre as menores para revistas open access.

Por dentro da GMB - IV

O editor assistente

Tratando do trabalho de publicar um periódico científico, como começou seu envolvimento com a GMB?

Klaus: Associei-me à SBG logo após a minha vinda para o Brasil em 1998 e, por trabalhar em uma área ainda relativamente nova no país, a biologia e genética de desenvolvimento, fui convidado, em 2002, para ser um dos editores associados na área Developmental Genetics.  No mesmo ano, me tornei um dos editores da revista Apidologie, dirigida para pesquisas sobre abelhas.

Assim, com uma experiência editorial consolidada, fui convidado para ser editor assistente na GMB, em 2005.


Quais as atividades que você desenvolve como assistente do editor? Quantas horas por semana são dirigidas para estas atividades?

Klaus: Existe uma certa divisão de trabalho entre o editor e o editor assistente, sendo que o primeiro lida principalmente com a análise editorial de submissões, enquanto eu fico responsável pela supervisão da produção dos XMLs para a PMC, implementação e manutenção da plataforma Scholar One e a supervisão da fase da produção, que inclui o controle de qualidade dos trabalhos dos copy editors, a verificação dos PDFs produzidos na diagramação, o envio de artigos para Ahead-of-Print e a composição de fascículos.

Por dentro da GMB - V

Produção nacional

A revista GMB foi a primeira publicação brasileira a ser incluída no repositório PubMed Central (PMC), contando com um software de marcação digital desenvolvido no Brasil. Por que a GMB decidiu investir no desenvolvimento de um sistema nacional em vez de utilizar as ferramentas que já existem, como a da empresa INERA?

Klaus: Existem diversas maneiras de fazer uma marcação XML e a mais divulgada entre as revistas científicas é a ferramenta desenvolvida pela INERA. Nós contactamos esta empresa e recebemos uma proposta, porém, ao mesmo tempo, recebemos uma proposta mais interessante, da Arquivo Digital, que já fazia a diagramação da GMB e já tinha desenvolvido uma ferramenta de checagem automatizada relacionando as citações de referências citadas no texto e aquelas listadas na bibliografia. 

A ferramenta eXtyles da INERA é "user friendly", trabalha dentro do Word e consiste de uma marcação manual dentro do próprio arquivo. Por ser manual, não necessita de conhecimentos computacionais, além da familiaridade com Word, mas também se torna relativamente lenta.

Por outro lado, a ferramenta desenvolvida especificamente para a GMB é uma marcação semiautomatizada e independente do Word. Isso se tornou relevante, pois dentro do nosso fluxo de produção, os arquivos são diagramados em Ventura e somente depois recebem a marcação. Aí uma reconversão para Word, como seria necessário para marcação com a eXtyles, poderia provocar erros. Além disso, ela é rápida e consegue produzir marcações XML de qualidade, dentro do prazo estipulado pelo PMC.